ex imediatista
Depois da maternidade aprendi a esperar. Eu, que com certeza posso afirmar sempre fui
a imediatista da família: tudo pra ontem, tudo agora, tudo pra já. A começar no hospital, ali no pré-parto, com as horas
agoniantes que antecedem a anestesia, os bisturis, o medo de tudo, da pressão
cair, subir, à incerteza da resistência, da iminência das dores, das emoções.
E depois de dar à luz, os dias são uma sucessão de esperas:
à espera do pediatra, da vacina, da primeira papinha, da primeira sílaba, do
primeiro passo, à espera que o remédio faça efeito, de que o sono chegue logo. Espero por um sono ininterrupto desde que o Lennon
nasceu. Espero que o cansaço vá embora, se renda, me deixe.
-mas ele não vai me deixar-
Quando perto, espero que ele durma e eu, repouse a mente, os
olhos, sempre seguindo passinhos, engatinhadas e remexidas na estante, nos
livros, nos brinquedos.
Quando longe, espero que o horário comercial acabe logo, que
se corrompa pra que eu volte aos seus abraços pequenos.
Depois da maternidade, congelei meus imediatismos.
Espero o mundo. E Lennon é o mundo, entendem? Eu que
sempre fui eu, que sempre serei eu, giro em torno dele e enfeito as esperas de
azul. Existe um meio tempo no qual eu faço as unhas, os cabelos,
no qual guardo as minhas caixinhas de super mulher, super esposa, super
profissional. Eu me cuido para cuidar dele. Para ser cuidada pelo Pai dele. É
um círculo. Talvez seja assim até os
dezoito, vinte, eu não sei. É uma questão para lista das esperas.
Depois da maternidade, congelei meus imediatismos.
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